UM POETA ESCONDIDO


    Franklin Pontes certamente é uma promessa na poesia do sudoeste paulista e não só


   O que esperar de alguém que lê um Victor Hugo, Machado de Assis e outros clássicos? Que leu Versos Satânicos? Que esperar de alguém que ouve Rubel, The XX entre outros? Pois a poesia é resultado, imediato ou não de tudo o que se ingere, de alimento cultural, de bom ou ruim. A poesia de Pontes, certamente está ainda em desenvolvimento, buscando a própria voz, o que é perfeitamente natural. Se a teoria de que tudo que lemos, ouvimos e consumimos de ótimos, subtraído disso a nossa própria obra, ela sai aquém do que idolatramos, imagine: qualquer coisa está aquém dos gigantes acima citados. Ora, a poesia de Pontes está sim abaixo dos monstros, mas não é ruim nem descartável. Ela imprime em si o que os outros diziam, sentiam, buscavam; sem ser anacrônico, é claro. 



   Contudo, é muito raro ver um talento, uma tendência para a poesia numa pessoa tão jovem. Muitos dizem que são poetas – coisa que, como o sacerdócio, não podemos revogar a nós mesmos. Esse fardo é gentilmente imposto pelo resto das pessoas, comuns ou não. Como dizia, muitos se dizem poetas e não o são. Não é o caso, pois Franklin Pontes é verdadeiramente um poeta: um forjador das letras.

    Como podemos verificar a afirmação anterior? É muito simples. Partamos para a exemplificação. No último poema, inédito e escondido, restrito a um círculo fechado de amigos, podemos contatar a astúcia poética dele: “E lá fui eu,/ Sustentando as nuvens nos ombros/ Com o horizonte penetrado no olhar/ Caminhando pelas águas do caminho/ E delas projetar-me ao brilho do (l)ar.” Ele evoca, sem saber, a Musa que o guia num caminho tão incerto e instável como a água, onde se afunda esperando chegar. É interessante como fala do peso que a leveza de uma nuvem tem nos ombros de quem vê o mundo desde uma perspectiva diversa, quem sabe poética?

    Nesse caminho, qual? Permanece andando, parecendo às vezes sem rumo ou chegada. Apenas um caminhar; uma obrigação de seguir: “E assim ainda fui eu,/ Andando com as mãos tremulas e a mente lívida,/ Permitir ao suor e às lágrimas caídas/ Romper com as linhas do passado”. Ele rompe, como uma lágrima fundida ao suor, humanos, com o passado belo e inalcançável. Finalmente parece chegar o seu limite, o fim? E continua: “E aqui estou eu/ Vivendo uma busca pura pela felicidade/ Onde não nega as noites de bruma densa/ Mas anima-se ao ver o vulto da esperança/”. Ele busca o inalcançável? Não é esta a tônica do seus versos, ele crê no que diz e esse verso em especial é mais como uma interjeição, um lamento, um desabafo. Por fim o poema acaba celebrando a infinidade do tempo que não podemos reter, porém que permanece existindo na memória, outrora sinônimo de passado intangível: “E ama esse divino segundo que por fim é imenso”.

      Franklin Pontes é um poeta reservado, nem ao menos nos deleita com uma publicação periódica de seus trabalhos nas redes ou blogs. Talvez tenha consciência que a sua poesia não é pra ser desperdiçada num ambiente, mesmo que virtual, onde o que mais importa é a beleza superficial das frases prontas. Um dos pontos fracos do poeta, talvez, é a busca dessa beleza, que não fútil, mas ainda parente próximo daquela. Eu não suporto as rimas, mas ele sim, ele tem peito para elas, que assim seja.

      Ele é um romântico, eu diria. Qual é o pecado de ser um? Nenhum, pois é um romântico que busca se aproximar dos grandes que admira.

Comentários

Postagens mais visitadas