NINA SIMONE: A LENDA, A DIVA E ATIVISTA



Fonte: Lola Who


A LENDA DOCUMENTADA

Por Fraklin Pontes

“I’ll tell you what the free is to me: no fear! I mean, really, no fear!” (Vou te dizer o que é liberdade para mim: não ter medo. Eu digo, não ter medo, mesmo!).
Quando é que sabemos se uma pessoa realmente foi grande durante seu curto período de existência entre nós? Quando é que sabemos a relevância de uma pessoa na construção de uma cultura, ou o seu papel em movimentos políticos-culturais que cascatearam no século passado? Certamente essas questões não são as mais simples a ser respondidas, mas no filme What Heappened, Miss Simone? (O que aconteceu, Sra. Simone – tradução livre) uma produção integral do Netflix, conseguimos dar uma luz a essas perguntas, embora não a respondemos plenamente.




Resultado de imagem para nina simone“Nina Simone foi brilhante”. “Nina Simone foi um gênio”. “Nina Simone foi alguém além de seu tempo”. Estas frases foram ditas por personalidades de seu tempo e contemporâneos a ela. Músicos, poetas, escritos e familiares, pessoas que compartilharam um pouco de seu melhor com alguém que sempre buscava o seu melhor, a ponto de, muitas vezes o exagero tocar a loucura. Mostra-se claramente que Nina Simone, batizada como Eunice Kathleen Waymon, fora uma mulher  profundamente talentosa e impulsionada pelo Belo presente na música, onde, muitas vezes lhe trará consequências divisórias. Quem mais se revela admirador dessa personalidade é sua filha, Lisa Celeste Stroud, que será ao filme ponto de referencia histórica e sentimental ao decorrer da vida retratada da cantora.
O filme possui em si dois trunfos: o primeiro é que, embora possua certa linearidade, próprio das biografias, este não é abordado de forma métrica, seca, reta; haverá cortes na narração onde o passado e o mais recente da vida de Nina andarão juntos, como um dando sustentação ao outro. E dinamizando isto, dando também coerência poética ao filme, mostrando-se como segundo trunfo é, por se tratar de um personagem existencial recente, onde o mundo da tecnologia e da ciência já estava na cultura, será a própria Simone quem falará quem é para nós, não alguém quem a conheceu (embora isto ocorra), ou alguém quem pesquisou sua vida (embora isto também ocorra). E isto fará toda a diferença na película, tornando-a agradável de assistir.
Após o término do filme sentimos uma sensação de que não queríamos que ele acabasse. Gostaríamos de conhecer um pouco mais dessa mulher que era tão profunda em sua alma que muitas vezes perdia-se em seus excessos e sabia traduzir isto às letras, às melodias, à própria vida. Muitas vezes encontramos filme que nos mostra humanos tão distantes e fantasiosos que não conseguimos nos identificar com eles, pois quase são divinos. Não é o caso de Nina Simone. Percebemos que houve uma preocupação da equipe do filme em não cair nesse erro, isto fizeram bem. Se víssemos personalidades sendo retratados tão humanamente, sendo fiel ao personagem existencial, creio que mundo do cinema teria mais filmes a se orgulhar por fazê-lo de modo tão real. 


SER LIVRE COMO IGUAIS

          Por Tiago Bessa


                       Nina começou cedo sua luta contra o racismo. Reza a lenda que aos doze anos de idade ela se recusava a iniciar seu recital na igreja devido ao fato de seus pais não poderem se sentar na frente, simplesmente porque eles eram negros; os negros tinham seus lugares devidamente marcados nos últimos bancos. A segunda grande batalha de Nina (todo dia era uma grande batalha na vida de um negro) contra o preconceito foi a recusa ao Curtis Institute da Philadelphia.  Adivinhou o motivo de não aceitarem ela?

               Em 1963 após a morte do ativista Medgar Ever, ela passou a ter voz mais ativa no movimento anti segregação, sua primeira grande contribuição vem com a musica Mississippi Godman, uma música cheia de fúria demonstrando o que é ser negro nos estados do sul, denunciando o tratamento dado aos negros, mostrando seu descontentamento com a situação e sua raiva. A música causou assombro, pois “goddam” significa algo como “puta que o pariu” em inglês.
               Durante a marcha da liberdade (Selma - 1965), assim como diversos artistas negros da época, Nina participou ao lado de Martin Luther king . E na noite de 24 de março subiu no palco das ‘estrelas da liberdade’.



               No ano de 1968 com a morte de Luther King o movimento pareceu se dissipar o medo tomou conta, muitos ativistas se paralisaram, Nina ao saber da morte de King tratou logo de compor uma linda canção intitulada Why? The king of Love is Dead (Por quê? O Rei do Amor está Morto) e em 04 de abril Nina cantou-a no enterro de King, fazendo assim permanecer vivo o sonho dele, mostrando que o movimento seguiria com a luta, e ainda mais unidos e determinados, porque o sonho era de todos. King já havia despertado o desejo, despertado a vontade da liberdade; os negros não queriam mais sentir medo.
               Seu grande último ato pelos direitos civis foi transformar a peça de teatro de sua amiga Lorraine Hansberry em uma linda canção To be Young, Gifted and Black.
               Nina teve sua carreira bastante prejudicada devido às suas opiniões e sua ativa participação nos movimentos sociais. Alguns produtores mantiveram-se afastados dela e diversas casas de shows não a contratavam devido a tudo isso ela saiu dos EUA em 1970 indo residir no sul da França onde morreu dormindo em 2003 em decorrência de um câncer de mama.


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