ESTUDANDO LITERATURA
O
que é literatura?
Uma pergunta que sempre me atormentou; e
que permanece ainda sem resposta. O que há são apenas apontamentos. E isso não
inviabiliza nada, mas abre espaço, abre caminhos. Isso não é maravilhoso?
Embora eu sempre tenha tido interesse por esse assunto, a minha preocupação era
apenas a de consumir literatura. Como muitos, eu tinha uma visão distorcida e
preconceituosa sobre o estudo dela. Creio que isso acontecia por uma defasagem
na minha educação, mais especificamente, no meu processo escolar. Nunca entendi
o que se espera de mim ao fazer uma análise literária, por exemplo. Como
estudar literatura sem matar o texto?
Uma galinha afogada
Ao ler alguns
textos de Antonio Candido, percebo que ele vai muito além do que posso
acompanhar. Não tenho as referências que ele tinha; não li o que ele leu. Por
exemplo, eu nunca li, para embaraço meu, nenhuma obra de Balzac, Zola e
Stendhal. O que possibilita que ele recupere traços comuns nas obras
brasileiras – que foram certamente inspiradas por aquelas francesas.
Antonio Candido (1918 - 2017), grande estudioso da literatura |
Eu nunca seria
capaz disso, a não ser a partir das leituras que devo fazer ainda. Me sinto
então como uma galinha que tenta acompanhar o ganso (ou cisne?), me afogo nas águas
ainda rasas da reflexão literária. Todavia, sendo a morte apenas figuração, eu
não morro de fato, mas engulo muita água indigesta – o suficiente para me
causar diarreia e vômitos; coloco para fora, aparentemente sem nenhum proveito,
tudo que engoli. Porém, constato uma maior sede.
Em virtude disso, como estratégia,
creio que todos fazem isso, me seguro nas penas traseiras de Candido e me
debato com minhas patas inábeis a fim de me manter a salvo de um afogamento.
Ele me leva, sem sentir meu peso, que é quase nulo. Note, não me deprecio. Me
ponho numa posição justa de quem se agarra numa oportunidade de ser direcionado
por águas nunca antes alcançadas.
Espero que em
breve, antes da fadiga de minhas pernas e de minhas asas, eu possa avistar
alguma terra firme, pelo menos alguma ilha em que possa encontrar algum tesouro
prometido. O trajeto é árduo. Tenho medo
de não conseguir chegar a lugar nenhum porque, quando olho a frente, não vejo
nada além das penas traseiras de Candido, mas não posso voltar. Desconfio,
contudo, que chegaremos a uma terra arenosa que tudo é mais ou menos móvel, que
tenha uma margem gigantesca de possibilidades.
Me sinto de tal
maneira no caminho do estudo literário, pelo qual começo a adquirir gosto: ou
por receio de não haver outro caminho, ou por necessidade de me apegar a alguma
coisa que me encha a alma de gozo. Sigo, portanto.
Realismo: o que é isso afinal?
Eu nunca havia
pensado muito acerca do realismo. Claro, eu já tinha estudado um pouco sobre a
constituição da realidade pela perspectiva da filosofia grega quando cursei por
um ano a faculdade de Filosofia do Centro Universitário Assunção - UNIFAI em
São Paulo. Mas, eu estava longe de entender como isso funciona ou como se dá
essa discussão no âmbito da literatura.
"Isso não é um cachimbo", René Magritte, 1929 |
Assim, em minha
concepção inocente das coisas eu acreditava que realismo era representar a
realidade como tal. Um texto realista seria um texto que não inventasse nada além
do que é possível de acontecer na vida real. Eu estava seguindo a ideia comum
do que seria realismo. Uma visão rasa e irrefletida.
Foi então que a
professora Coronel nos deu o texto Realismo:
postura e método, da Tânia Pellegrini, e eu pude descontruir e construir um
saber diferente acerca desse termo tão polêmico e complexo – coisas essas que
eu mal desconfiava.
Já no início,
Pellegrini escreve que realismo é um
“termo escorregadio e um tanto impreciso” que é difícil entender por causa da
aparente obviedade de seu sentido. Era esse o ponto em que eu derrapava,
acreditar que simplesmente realismo era a representação da realidade tal como
ela é.
Comentários
Postar um comentário