DOIS POEMAS DE LA NIETA


Leia dois poemas de La Nieta 

Felipe Stefani


*

SOU COMO AS OUTRAS

Sou como aquela que depois que te chupa  
você chuta
Não entendeu? Eu sou puta!
Sou como aquela que se prostitui  
por uma pedra de crack
Sou como aquela pedindo comida, desempregada 
Sou como a que limpou suas mijada
e hoje esfrega a suas freiada  
Sou como a que te pariu
Sou como a que vai enfiar um cano na sua cara
Sou como Espertirina, Joana D’Arc e Anita: mal amada  
Sou como a que te salvou, te amou
te salivou
Sou como as que resistem
Sou como as que você também matou.


*

ORAÇÃO


Sou uma mulher pobre (e branca) cursando faculdade.  
Então eu vou falar da minha especificidade. 
Na cidade,  meus olhos ardem, meus ouvidos me tiram da base.
Como em qualquer outro lugar, chego em casa e penso  "quase". 
Minha(s) mãe(s) me protege de longe. 
O centro  é perigoso e seus arredores.
Assaltos de carro, assaltos de 9. 
Numa caixa de metal é  difícil saber quem é playboy e quem é pobre. 
Até onde  importa, se não parece um gesto nobre?
Nobre vem de nobreza, realeza... os burguês...  
Burguês sim é nobre. Burguês só rouba pobre.  
FIXE NA SUA MENTE: TODO BURGUÊS É  LADRÃO.
A burocracia encobre crimes. As cadeias brasileiras por  
si só são crimes. Como se "trata" crimes com crimes?  
Texto positivado
Texto negativado
Letra fria
Texto morto
NO CAPITALISMO O PODER É DINHEIRO  
NÃO CULPE A PERIFERIA SE PODER É  DINHEIRO
NÃO FOI A PERIFERIA QUE ESCOLHEU QUE 
PODER É DINHEIRO
A PERIFERIA É PRODUTO DO ESTADO  
ESTADO, PAGUE O QUE ME DEVE!



*Os poemas foram publicados na ed. de fevereiro da ID.

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