O PRESENTE NÃO É UM PASSADO EM POTÊNCIA
A radicalidade de Simone de Beauvoir e outras questões
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Por Laura Stein
Ninguém entende quando, séria, no meio de uma conversa com
pessoas de todos os gêneros, eu explico que amo a liberdade de Simone de
Beauvoir, mas que sim, apesar de qualquer situação, ela é e sempre se manterá
feminista radical.
Me questionam e ficam pasmos. Às vezes não compreendem,
tatuados com a frase “Não se nasce mulher, torna-se mulher”. A explicação da
frase fala sobre o patriarcado na obra, se formos olhar por contextualização.
Mas se pegarmos apenas a frase, sentirmos que é possível tomar uma
interpretação gostosa de qualquer gênero. E por qual razão ignorar algo tão
gostoso e dizer que é errado num mundo onde podemos ser quem somos?
O objetivo da Simone de Beauvoir nos anos de 1960/70,
estamos em 2019, era acabar com o gênero para que enfim as mulheres pudessem
ser livres. Eu posso resumir assim?
Estamos em 2019, eu repito, e mesmo com tendência radical
eu não posso ignorar que a quantidade de gêneros criados, mesmo indo contra o
pensamento radical, abre um caminho para que pessoas possam enfim vestir o que
querem e serem o que quiserem. É claro que eu, mulher cis, que nasci com vagina
e fui desde o princípio criada para ser não feminista, mas sim feminina e
submissa ao homem, necessito lutar contra isso e tudo de ruim que vem disso. Gostaria
que no futuro não houvesse mais brigas ou discussões por causa de gênero, que
sequer houvesse gênero, mas eu preciso pensar nas minhas ações do agora e o que
beneficia todas mulheres e não apenas a mim que nasci com vagina. Não quero e
não posso ser egoísta, mesmo que eu deseje acabar com gêneros. E Simone de
Beauvoir, hoje, pensaria como eu sem deixar sua ideologia feminista de lado,
sem precisar gritar ser liberal ou por feminismo individual. O feminismo
radical protegendo a mulher trans ou um ser sem gênero não é menos feminista rad.
E é por isso que inicio já perto do fim esse parágrafo
falando de respeito “quando se respeita alguém não queremos forçar a sua
alma sem o seu consentimento”. Simone de Beauvoir nos anos 60/70 era sensata
para sua época. O seu feminismo necessita continuar vivo. Eu prefiro carregar
ele de um lado positivo e buscar conhecimento, já que além do radical se falava
em respeito. Há quem ignore isso e deixe ele apenas nas décadas passadas. Não
me misture, por favor, com pessoas assim.
Porque o feminismo acima de
qualquer coisa, mesmo que você não concorde com tudo e tenha suas diferenças
conforme suas vertentes, é respeito, luta e proteção. É saber abraçar a mulher
trans, cis, hétero, lésbica, bi e pan – ou de qualquer rótulo. Porque quando
uma mana precisa, não há
interpretação, vocabulário diferenciado, que justifique falta de abraço, e é
por isso que eu rio e adoro as diversas interpretações atuais das frases dos
clássicos de Simone de Beauvoir de quem sequer leu ou compreendeu seus livros.
Não tem problema, é pra isso que todas nós, mulheres, estamos aqui: pra te
guiar e abraçar.
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