MEUS CONSELHOS NÃO SÃO CONSELHOS

O que dizer quando um amigo pede conselhos, mas não pode dá-los.



Por Pedro Moreira

Um dia desses, um amigo – desses amigos que dizem coisas que bate na gente como martelo de ferro, que bagunça a cabeça – me disse que eu tinha os conselhos mais socono-estômago. Senão fosse pelo que tenho lido de tanta gente que, elas sim, gente do tipo socono-estômago, eu jamais poderia dizer tais coisas – que confesso repetir. São dizeres de papagaio. 

Amigo, não são conselhos meus. São conselhos alheios, que leio para mim, não como advertências, mas como literatura. Entende? Se os conselhos fossem meus, eles seriam como a correnteza: fluídos e sem forma. Um dia seriam cabíveis, outro dia seriam improváveis. Isso se deve ao fato de eu me ter como um riacho, desses de cidade pequena. E, ainda assim, imperfeitamente delineado. 

Sou sazonal; é isso. Não me defino por nada que dure mais que o meu dia. Definir as coisas é, de certo modo, dar fim às coisas, delimitá-las, expô-las aos seus limites intransponíveis de ser. É algo que não se pode fazer perfeitamente. E, sinceramente, não existe perfeição e todo o resto é causo. Um salto para o inútil. Prefiro-me incapaz de dar nome a mim mesmo: inominável como as coisas seriam, não fosse a abstinência humana por linguagem. 

Meus conselhos não são conselhos, são injúrias. Meus conselhos não são conselhos, são ofensas. Meus conselhos não são conselhos, são inverdades. Coisas que antes de dizer a outros, repito a mim mesmo. Sem defesa. Sem covardia. Por isso, cabe aqui, o que seria meu único conselho de verdade: não os peça.

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